
porque os anos passam e algumas vidas separam-se e há quem não se fale mais, e às vezes encontramos na rua e são apenas memórias e nada mais do que isso. Mas para além de fotografias que persistem à memória, o coração grava o que não se esquece e há quem signifique tanto...
Tanto, que às vezes nos esquecemos de como é viver sem lembrar algumas caras, alguns sorrisos e sem ter partilhado as preocupações e copos de vinho que pintaram os lábios em noites tardias de conversas inacabadas, de sorrisos sinceros, de gargalhadas que encheram a noite até ás ruas geladas de invernos tão quentes e acordaram o sono de desconhecidos. e os nossos passos ouviram-se até tarde a caminhar sem sentido e a regressar para sitios sem importância e em stand-by ficavam as vidas esperando horas passar e podermos estar de novo.
Palavras que não eram nossas, que foram proclamadas em conjunto e que nos serviram tantas vezes de inspiração, são agora novamente aquilo que eram, palavras escritas apenas em folhas de papel que acumulam pó nas prateleiras de um novo prédio que não foi nosso, foi pouco... Assim como as lembranças, aquele tecto que em tempos acolheu os nossos corpos cansados, ruiu, apodrece e no entanto para mim será sempre a memória. Porque nos temos que libertar do passado e exorcizar os espíritos que povoam os nossos sonos, escrevo pouco na tentativa de não serem as lágrimas responsáveis pelo curto-circuito do meu ser informático.
Escrevo porque as memórias existem, e são fotografias e vozes e pequenas fendas de luz que se abrem na escuridão do nosso subconsciente, inconsciente e que se reflectem como imagem real atrás dos nossos olhos. E vemos cada vez mais desfocadas as nossas alegrias, sentimos cada vez mais saudade, e caminhamos em frente.
Caminho porque encontrei inspiração nas memórias antes de serem isso. Porque fazia sentido, porque era infantil e porque tudo parecia que ia dar certo. Porque agora choro, porque não me consigo libertar... e não quero. faz sentido.